Primeiro de tudo comecei a minha coleta de sons pelos sons da minha casa no Curiachito. Testei gravar com o meu celular e de início não deu muito certo, mas com outro aplicativo de gravação achei que acabou dando tudo mais ou menos certo. Eu procurei por sons/barulhos/ruídos que fossem de alguma forma interessantes, mas também cotidianos, ou trouxessem uma lembrança de casa. Foram vários dias de escuta para selecionar o que eu queria captar, no final gostei bastante do resultado.
Já para a gravação da parte em equipe o processo foi diferente, não houve muito um planejamento. Fomos um dia juntos ao bairro designado (Caquende/Faceira) com o propósito de fazer as gravações iniciais com celular mesmo, mas acabamos desistindo principalmente por conta dos ventos. Mas essa experiência foi boa para exercitar a escuta do local – ainda mais que ambos os membros da equipe moram longe –. Assim marcamos outro dia para voltar com um equipamento melhor para gravação.
Para mim uma das partes particularmente difíceis foi pensar quais sons seriam interessantes, quais são os sons típicos daquele bairro? E como identificar mesmo não morando lá? No final acho que acabamos gravando muitas coisas mais ou menos no mesmo local da Faceira, embora não totalmente, foi mais uma escolha afetiva nossa com o lugar.
Fomos um sábado pela tarde e depois na segunda pela manhã. Não haviam pescadores perto do rio em nenhum desses dois dias, mas tinham vários cavalos na praça e também dentro da quadra esportiva. Gravamos o rio, as ondinhas da margem. Queríamos gravar algo dos cavalos, mas nem na segunda, que estava mais vazio, isso foi possível. Eu particularmente gostei bastante de captar as vozes das pessoas, acho que as pessoas são uma grande parte do bairro, e da cidade, então não tem como não ter sons de passos, e carros, caixas de som e conversas e um mapa sonoro. Portanto, ao final meus áudios preferidos foram o do carro da funerária e o da pracinha do Caquende – mas também gostei muito dos sons mais “naturais” –. Na verdade, acho foi muita sorte passar o carro funerário logo na segunda de manhã, pra mim esse é um som fundamental de Cachoeira. Porém eu também queria ter conseguido pegar melhor as conversas de um bar, as crianças brincando na quadra, mas não soube como me aproximar e pedir para gravar sem atrapalhar ou se sequer seria possível captar os sons que eu imaginei.
Realizar a captura de todos esses sons para o mapa foi de alguma forma desafiador, não é todo dia que as disciplinas nos obrigam a sair nas ruas assim, mas também gostei bastante do exercício ao final e do resultado obtido.
Sayuri Miyamoto
(grupo Caquende e Faceira)
Outubro, 2022