Na captação individual, ouço as vizinhas conversando na frente de casa, no bar. Crianças choram e brincam na rua. O som da televisão também povoa o espaço, assim como alguns ruídos da minha amiga cozinhando. Uma mãe passa berrando com sua cria. O que percebo é como meu bairro tem um aspecto de proximidade, das vidas se misturando, da ideia de público e privado ser menos demarcada. Pelo fato de existir essa ocupação e cotidiano da rua, as pessoas acabam se chocando, encontrando, enfim, é um bairro que pulsa enquanto atividade. Isso, às vezes, traz pontos positivos e, noutras, negativos. Minha escuta foi nesse lugar já quase costumeiro em Cachoeira, de entender esse ecossistema de interação frequente.
Já em equipe, foi num lugar de entender os estímulos interessantes pra cada um, que partiam em busca das fontes sonoras que lhes chamassem atenção. As questões técnicas também foram preponderantes, visto que utilizamos o microfone do próprio Zoom H6, que não sustenta muito bem a ventania. Interessante ver os recortes de cada um, pra onde apontar, o que captar. Animais, pessoas, objetos, estruturas, rio… enfim, cada um na sua escuta, de acordo com seus pontos de interesse. No meu caso, interessado no mistério do som do trem durante a madrugada silenciosa, pude perceber a riqueza de detalhes que existe ali. Inclusive, acredito que o detalhamento tenha tornado ainda mais intimidadora a potência da enorme estrutura do trem.
Rodrigo Ribeiro
(grupo Viradouro e Cucuí)
Outubro, 2022