Eliabe Barbosa de Jesus

Começamos Sayuri e eu a fazer o mapa no sábado dia 15/10 no caquende. Um longo percurso que não pareceu tão longo assim pela companhia e por nossas conversas. Decidimos primeiro tentar a faceira, que é um lugar bastante bonito, principalmente onde ficam os pescadores que montam suas armadilhas de caranguejo e mariscos e de onde se pode ver a pedra da baleia e o famoso farol que serve de logo para o nosso curso de cinema e audiovisual.

A primeira tentativa de gravação foi minha, que logo deparei com a interferência dos ventos. Para mitigar esse efeito, tentei proteger o microfone com minha camiseta, o que deu muito certo em relação a anular o efeito do vento, mas muito errado no objetivo de captar o som das marés da água – abafei até demais.Tentei novamente, mas sem a camiseta no microfone (como deve ser), dessa vez usando meu próprio corpo para bloquear o causador do problema. Deu certo e fiquei feliz com o monitoramento.

Sayuri gravou logo depois os sons dos grilos. Agora pensando retrospectivamente, percebo que era um som que provavelmente ignoraria, tanto é verdade que enquanto elu captava, eu me perdi devaneando na intensidade da estridulação dos insetos. A melhor gravação veio logo depois: Sayuri escolheu captar na capela do caquende onde pude sentar no degrau da igreja e ouvir a praça como se a mesma estivesse viva com o pulso dos pássaros e das conversas em seus bancos.

Em casa, gravei o primeiro áudio individual na segunda 17/10 assim que amanheceu, deixando meu celular na minha janela que dá de frente ao rio paraguassu. Esse é o bom-dia que o rio todo dia me dá. Sei que não dá pra ouvir com clareza os patos, os pássaros e os insetos, mas estão lá. Por volta das 8:30 me encontrei com Sayuri para gravar mais áudios no caquende, dessa vez em um horário diferente. Fui acometido por uma insônia e elu pela perda da voz, com uma rouquidão que nunca tinha visto. Ao contrário do primeiro dia de captação que fomos conversando por todo o trajeto até o caquende, dessa vez fomos em silêncio. A experiência sonora de fato não é apenas o captar, mas o viver.

Pela manhã os pássaros cantavam mais, as pessoas conversavam mais, os caminhões e motos passeavam mais, marretas e construções, o carro da funerária. O silêncio da cidade que praticamente berrava em meus sentidos cansados. Eu não consigo lembrar a ordem das gravações devido ao meu estado naquela manhã.

Na terça 18/10 pela manhã gravei o trem passar de frente a minha casa, do primeiro ao último vagão. Pena que não ficou tão preciso. Eu notei que meu gato sabia muito antes de mim que o trem iria chegar. Talvez já na ponte, pois ela corre e espera na janela por ele, deve pensar que tipo de animal é.

Eliabe Barbosa de Jesus

(grupo Caquende e Faceira)

Outubro, 2022