Ana Clara Pereira de Oliveira

No dia 10, gravei dois áudios individuais. Um deles foi pela manhã, o residencial estava silencioso, como a maioria das manhãs de meio de semana, andei até a parte de trás daqui e não utilizei este áudio porque ficou mais curto do que imaginei, aparentemente eu ando rápido quando estou tímida.

O segundo, foi gravado na parte da noite pois é quando o residencial ganha vida, os vizinhos do segundo andar sempre sentam em frente as suas portas e ficam trocando conversa; Na gravação, aparece um pouco desse diálogo ofuscado pelo som alto da televisão do meu vizinho, e fiquei receosas de me verem com o celular e acharem que estava espionando eles apesar de não ser possível entender perfeitamente qual o tópico da conversa. Mesmo com esses pensamentos, consegui gravar um áudio bacana e depois de escutá-lo percebi que também é possível ouvir a música da igreja aqui perto, algo que até o momento eu não tinha notado.

No dia seguinte, era o dia que eu e Olivia havíamos marcado de ir até os bairros. Decidimos gravar na parte da manhã e da tarde e não à noite, porque Olivia não está aqui na cidade nesse horário e eu não me sinto bem em ficar andando de noite sozinha. Nós nos guiamos pelo GPS até o Morumbi, foi fácil chegar lá, mesmo com o sol quente. Um homem estava usando um martelo, trabalhando em algum objeto metálico e fazendo um barulho bem característico, por isso acabei subindo a Rua do Morumbi com o gravação ligada para pegar os sons daquela rua. Havia umas mulheres reunidas em frente a um cabeleireiro conversando e algumas pessoas descendo a rua que se cumprimentaram no percurso. Olivia se interessou em um passarinho engaiolado e fiquei esperando por ela.

Depois, decidimos ir ao Pitanga. Como o bairro não aparecia no GPS para Olivia, perguntamos para o motorista do caminhão de lixo indicação, ele e outro rapaz trocaram algumas ideias e nos indicaram onde devíamos seguir. Foi bacana também que no percurso, eu e Olivia pudemos conversar sobre assuntos variados que nos interessam e nos conhecer mais enquanto tentamos encontrar o bairro Pitanga. Precisamos andar um pouquinho mais até chegar lá, mas não foi difícil de encontrar.

No Pitanga tinha sons mais variados, tinha mais ventinhos frescos e conseguimos sentar por alguns segundinhos numa sombra na praça. O que mais me chamou atenção foi um córrego bem em frente a Escola Estadual de Cachoeira e foi o primeiro som do Pitanga que decidi gravar. A água era muito forte e consumiu todo o espaço no áudio abafando completamente os outros ruídos ao redor. Um homem passou por nós com um carrinho de mão e rapidamente Olivia o seguiu para capturar o som enquanto fiquei numa esquina esperando por ela. Antes de voltarmos, gravei uma caminhada descendo a rua da escola e o mais legal foi um senhor cumprimentando a dona de uma lojinha de plantas bem no finalzinho da gravação. Ver essa loja de plantas foi um achado, pois eu estava procurando por alguma aqui na cidade.

O ponto positivo da tarde foi que já sabíamos onde eram os bairros e o ponto negativo era que o sol estava mais forte. Notei que tinha mais pessoas na rua até o Morumbi e algumas lojinhas estavam abertas, assim que chegamos lá nos deparamos com um gatinho. Olivia tentou fazer carinho nele e mesmo sendo arisco e não aceitando, ele continuou por perto. Logo outro gatinho apareceu e gravei os miadinhos deles. No campinho, enquanto Olivia ia até perto dos cavalos e fazia uma gravação, eu fiquei admirando a estrutura da grade do campinho. Meu avô tem o hobby de trabalhar com madeira, desde novinha eu ficava com ele na sala de trabalho dele vendo-o cortar, lixar, encaixar, pregar as madeiras. Sempre fazendo muitas perguntas e querendo usar o martelo. Por isso, achei incrível a estrutura ser feita de toras de madeira encaixadas e a grade presa nessa madeira, um trabalho criativo e bem feito. Logo tirei uma foto para meu pai mostrar ao meu avô.

No bairro Pitanga, meu último áudio foi de um rapaz colocando pedras num balde. A repetição do som foi o que me chamou a atenção. Nós ficamos meio tímidas de se aproximar e foi Olívia que perguntou se podíamos gravar. Fomos por uma rua que ainda não tínhamos passado e Olivia gravou nossos últimos áudios, de alguns homens trabalhando com uma serra.

Mesmo que o sol tenha feito churrasquinho da gente e que estava muito sol, foi um dia muito divertido tanto por gravar e conhecer novos lugares da cidade de Cachoeira que eu provavelmente não teria ido sem um motivo quanto por estar com minha dupla, Olivia.

Tenho um vizinho que está há alguns meses aprendendo a tocar teclado e tem sido um som recorrente as tentativas e erros de seus ensaios e na noite de sexta feira (dia 14), ele estava ensaiando, então decidi que seria meu segundo áudio individual.

No geral, foi uma atividade muito prazerosa e divertida de ser feita. Notar os sons de onde vivemos e passamos é uma ótima maneira de se integrar com o local. Por causa disso, fiquei relembrando sons característicos da minha cidade.

Ana Clara Pereira de Oliveira

(grupo Morumbi e Tororó)

Outubro, 2022.